Kreuzberg é provavelmente o bairro mais hipster de Berlim, na Alemanha. Multicultural, descolado, com uma arte de rua vibrante. Por lá dá para fazer compras em uma loja que vende frutas, verduras, grãos, temperos, massas e até cosméticos a granel. Tudo sem embalagens nem plástico. Você leva sua sacola de pano e seus recipientes de vidro ou então compra refratários e usa saquinhos de papel à disposição na ilha central do salão. É assim que funciona o Original Unverpackt, um pequeno mercado que opera no sistema zero waste, ou desperdício zero.
O conceito não é novo. O primeiro zero waste do mundo foi o Unpackaged, de Londres, aberto em 2007. Hoje, já são 150 estabelecimentos desse tipo, de acordo com o site Bepakt, que lista os supermercados e lojas livres de embalagens. A maioria fica na Europa, mas também existem unidades nos Estados Unidos, no Canadá, em Taiwan e na Coreia do Sul. Em 2015, 27 casas abriram as portas. Em 2016, 60. Só no primeiro semestre de 2017 foram inaugurados 24 mercados.
Segundo a Comissão Europeia do Meio Ambiente, cada cidadão europeu usa, em média, 198 sacos plásticos por ano – 89% deles são descartados logo após a primeira utilização. Se o consumo de plásticos fosse eliminado na região, a economia seria de 899,5 bilhões de euros.
Os alemães produziram 220 quilos de resíduos plásticos por habitante só em 2014. Não é à toa que o país esteja cada vez mais engajado na luta contra o desperdício. Todos os habitantes separam o lixo e 71% desse material segue para a reciclagem.
Além da guerra declarada aos plásticos, o que chama a atenção nesses locais é a preocupação com a origem do que está à venda. Todos trabalham com orgânicos – alguns deles vendem apenas orgânicos. Se há alguma ilegalidade envolvida na cadeia produtiva, como trabalho escravo, exploração de menores ou uso indiscriminado de recursos naturais, a mercadoria passa longe das prateleiras.
Parece uma ideia de negócio para poucos, mas a experiência desses novos empreendedores mostra que é um sonho possível. O capital necessário para abrir uma loja depende do país e da região escolhida. A proprietária do Original Unverpackt, Milena Glimbovski, juntou 25 mil euros (cerca de 93 mil reais) com a ajuda de financiamento coletivo. Ela começou com 300 produtos e já conseguiu dobrar o número de ofertas.
Para quem quer seguir os passos de Milena, que organizou um curso online (veja aqui), é importante ficar atento a estes pontos:
● Nada de plástico: os alimentos ficam dispostos a granel e o cliente precisa trazer seu próprio recipiente. Como nem todo mundo sai de casa preparado para isso, vale deixar sacos de papel para uso livre e potes à venda ou como cortesia.
● Desperdício zero: a comida prestes a vencer pode ser destinada a um grupo de pessoas dispostas a distribuí-la ou uma entidade beneficente.
● Produtos comprados em sacas: a cara de armazém é o charme diante de tantas lojas cheias de perfumaria e plástico. A disposição dos grãos nesses mercados costuma seguir um padrão (veja as fotos).
● Origem conhecida: para ter um zero waste é preciso fazer negócio com quem tem os mesmos interesses. Por isso, é importante valorizar selos e certificações e visitar os produtores para conhecer os processos adotados por eles.
● Produtos locais: uma das práticas mais sustentáveis é comprar de quem está nos arredores.
● Marcas famosas: mesmo as grandes empresas com selos verdes precisam ser olhadas com cuidado, para verificar se a cadeia completa de produção é realmente responsável.
Publicado em 10/09/2017