Parece que o mundo, finalmente, está acordando para a gravidade do lixo plástico e resolveu declarar guerra a seu consumo. Em outubro de 2017, o Chile foi o primeiro país da América Latina a proibir a venda de sacolas plásticas. Em dezembro, a China anunciou a proibição das importações de qualquer material reciclável (aliás, que prática insana, não?). O ano de 2018, começou com mais uma boa notícia: o Reino Unido criou um plano para restringir o uso do plástico e quer acabar com ele em 25 anos.

Esta semana, foi a vez da União Europeia (UE) se manifestar. Quem sabe inspirada pelo anúncio do Reino Unido, mas também por causa destes números: anualmente, os europeus descartam 25 milhões de toneladas de resíduos plásticos, sendo que menos de 30% é coletado para reciclagem.

Frans Timmermans, primeiro vice-presidente da Comissão Europeia, declarou que Bruxelas vai ser a primeira cidade da comunidade a implantar estratégia de ataque aos plásticos de um uso só, taxando seu uso, como fez o Chile. Em entrevista para apenas cinco jornais europeus, ele resumiu bem o absurdo que envolve a existência desse tipo de plástico: “Eles são produzidos em cinco segundos, utilizados por cinco minutos e levam 500 anos para se degradar”.

Esta ação integra o plano da UE de “limpar” o continente dessa “praga”’ até 2030, permitindo apenas o consumo de plásticos reutilizáveis ou recicláveis e, consequentemente, reduzindo ou zerando os resíduos desse material. Para alcançar essa meta, contempla investimentos de cerca de 350 milhões de euros em pesquisas, promovendo uma mudança de comportamento radical e incentivando a modernização da produção e da coleta de plásticos.

Timmermans ainda salientou: “Se não fizermos nada a respeito, em breve teremos mais plástico do que peixes nos oceanos. Vamos sufocar com tanto plástico!” Ele lembrou que programas de TV, como o Blue Planet, da BBC, já mostram essa realidade e que é só visitar as praias nos países asiáticos após as tempestades para confirmar a façanha que conseguimos fazer. Aliás, foi um programa da série Blue Planet que chacoalhou o governo do Reino Unido e impulsionou as medidas tomadas por esse país.

Por conta desse cenário, não teremos alimentos vindos dos oceanos – peixes e outros animais estão comendo e se machucando com plásticos -, nem contaremos com os serviços ambientais oferecidos diariamente pelo mar. O consumo desse material e seu descarte irresponsável são, portanto, também um problema de saúde.

O plano da UE será, realmente, uma reeducação ambiental, que é o que todos os países do mundo precisam adotar. Afinal, plásticos representam 85% do lixo global! Não há necessidade alguma de mexer o cafezinho com um pedaço de plástico, né? Nem de sugar o refrigerante ou o suco com um canudinho. Se este último “adereço” for muito indispensável – por questões de higiene -, então, o melhor é usar um canudo de papel ou levar um canudo de material durável na bolsa.

Quando divulgou sua campanha contra o plástico de um único uso, o governo do Chile distribuiu canudos de metal para os jornalistas. A meu ver, essa medida também é questionável se levarmos em conta que, com o uso constante, esse tipo de material fica depositado em nosso organismo, o que também não é bom pra saúde. Em resumo: é importante buscar alternativas e mudar hábitos.

A meta da UE é chegar a reciclar 55% do plástico produzido/consumido até 2030 e que os países membros reduzam o consumo de sacolas plásticos por pessoa, de 90 para 40, até 2026. Além disso, cada país deverá monitorar e reduzir seu lixo marinho.

A água engarrafada também está na mira de suas estratégias: para bani-la do consumo diário, será liberado o acesso à água potável nas ruas. A adição de microplásticos em cosmésticos e produtos de higiene pessoal também será proibida, como já aconteceu no Reino Unido.

Além disso, os países da UE deverão receber orientações sobre como melhorar a classificação e a coleta de plástico reciclável junto aos consumidores; isso vale também para a rotulagem das embalagens plásticas. Informação de qualidade é imprescindível para o sucesso dessa empreitada, sem dúvida.

Timmermans e outros representantes da comissão não deram detalhes de como cada etapa do plano será cumprida. Mas é inegável a disposição para agir agora. Mais de 100 milhões de euros estão sendo investidos em pesquisas para o desenvolvimento de projetos de inovação em durabilidade e reciclabilidade.