Recife foi construída sobre rios e manguezais, mas como muitas outras metrópoles brasileiras também virou as costas para os recursos naturais. E, como consequência, para as populações que vivem nessas áreas. Por isso, na Ilha de Deus (uma comunidade de cinco mil habitantes) continuar pescando é uma forma de resistência contra a especulação imobiliária, a poluição dos mananciais e a criminalização da pobreza.
“100% dos moradores vivem da pesca – se não vivem diretamente, já pescaram um dia. Falando especificamente das mulheres, é bem mais complexo”, explica Eloísa Amaral, que atua como educadora de um dos projetos da Ação Comunitária Caranguejo Uçá.

A coletividade é um dos pilares da organização, que busca melhorias e articulação na comunidade (Reprodução/Facebook)
A associação foi criada em 2002 por um grupo de amigos que se juntou para dar continuidade a uma luta por sobrevivência que sempre foi protagonizada por mulheres da comunidade, como a educação e a saúde. Para isso, criaram uma rádio comunitária. Com uma caixa de som e um microfone colocados na rua, eles abriam espaço para falar de questões políticas e da importância de se organizar para conseguir melhorias em prol da coletividade.
Hoje, além da rádio, o Caranguejo Uçá tem o Jornal da Maré (programa mensal exibido pela TV Universitária do Recife e gravado na Ilha de Deus), o Cine Mocambo (com exibições semanais), o grupo de maracatu Nação da Ilha, o grupo de teatro Trilha e a Ciranda de Mulheres, na qual Eloísa atua.
“O grande desafio é a gente se adequar e mobilizar essas mulheres, mostrar que essa realidade que é tão difícil para elas pescadoras e para nós, mulheres em geral, pode ser minimizada quando você tem o apoio da outra e está consciente dos seus direitos”, aponta Eloísa.

A Ilha de Deus fica na região do Recife, uma área onde há manguezal e grande parte da população sobrevive a base da pesca (Reprodução/Facebook)
Publicado em 27/08/2018