Se você viajar à Tailândia terá a oportunidade de conhecer dois cenários distintos. De um lado, um país de praias paradisíacas, templos, parques, cores e sabores. De outro, o país com uma das maiores taxas de prostituição infantil e trabalho escravo do mundo. Meninas de comunidades rurais, indígenas e de famílias refugiadas são vendidas todos os dias por suas famílias, que precisam de dinheiro para se sustentar. Outras são constantemente aliciadas com promessas de bons empregos na idade e acabam caindo nas armadilhas da indústria do sexo.

Sim, esse segundo cenário é chocante. Mas há quem vá para a Tailândia e não se importe ou simplesmente prefira curtir as belezas do país. Só que há aqueles que se importam, que não conseguem voltar para casa e esquecer esse cenário de abusos e extorsões. A nova iorquina Alexa Pham pertence ao segundo grupo.

Em 2011, a fotógrafa, que já trabalhava para organizações sem fins lucrativos pelo mundo, não virou as costas para a Tailândia e criou a Daughters Rising, organização que promove workshops de capacitação profissional jovens tailandesas para colocação no mercado de trabalho. A organização também oferece cursos de artesanato e preparação para os estudos, auxiliando para que ingressam na universidade.

“Nosso trabalho é prevenir o tráfico de meninas. Depois que elas são traficadas é muito difícil resgatá-las e, mesmo quando são resgatadas, os danos emocionais são muito difíceis de superar”, explica Alexa. Porém, ela encontrou outro desafio: a falta de oferta de empregos.

Com espírito empreendedor, a fotógrafa criou o Chai Lai Orchid, um resort natural e refúgio de elefantes capturados em locais onde eram maltratados para atividades turísticas na região de Chiang Mai, norte da Tailândia. No Chai Lai Orchid, todas as funcionárias são meninas e mulheres da comunidade local Karen Hill, que passaram pelos projetos da Daughters Rising.  “O local é pequeno, temos somente nove quartos, mas foi a maneira que encontramos para gerar trabalho para as meninas e salvar esses elefantes que são criados em condições precárias e machucados quando os turistas andam em cima deles”, conta.

A cabeça cheia de ideias de Alexa não para. Ela acaba de criar o Chai Lai Sisters, também com as garotas da comunidade Karen Hill, que atuam como guias em excursões pela floresta e em interações com os elefantes sem maus-tratos. “Também trazemos o apelo ambiental para essas excursões. Na Tailândia, para qualquer passeio turístico, você ganha garrafas de água de plástico. O resultado são milhares de garrafas espalhadas pelas praias e pelas águas. Aqui, nós damos uma garrafa de metal, que o turista pode levar para ele como lembrança. Também plantamos três árvores para cada turista que contrata as Chai Lai Sisters.”

Enquanto os projetos de Alexa crescem e ganham força na Tailândia, ela planeja voltar a viajar o mundo, agora na companhia de seu marido e seu filho. Casada com um refugiado Burma (da antiga Birmânia, hoje Mianmar), um dos centenas de milhares de refugiados que vivem na Tailândia sem identidade, entregues à sorte sem direitos e vítimas de exploração e escravidão, Alexa faz de seu trabalho uma forma de dar visibilidade para todos os desafios sociais e ambientais que a Tailândia vive e ofusca com seu turismo paradisíaco.

Ela usa essa mesma ferramenta, o turismo, para mostrar que um novo modelo, sem exploração, sem desgastar os recursos naturais, valorizando as comunidades locais, é mais do que possível: é necessário.

 

Este conteúdo faz parte do projeto “Ela é quente”, idealizado e cedido ao Believe.Earth pela jornalista e educadora ambiental Evelyn Araripe. O projeto narra histórias inspiradoras de mulheres, de diferentes partes do mundo, que estão engajadas em ajudar a enfrentar as mudanças climáticas.