Restos de comida se decompõem sozinhos e basta jogá-los no lixo comum que a natureza faz o restante, certo? Errado! Produzimos quase 2 bilhões de toneladas de resíduos úmidos – conhecidos como lixo orgânico – por ano e metade disso acaba em aterros sanitários. Ali, esses descartes liberam uma quantidade grande de gás metano, que tem potencial de aquecimento global 25 vezes superior ao dióxido de carbono, segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). “Além disso, o material se mistura com outros tipos de resíduos e isso gera o chorume, que é tóxico, porque contém substâncias como metais pesados e medicamentos, além de contaminar os lençóis freáticos e, consequentemente, a água que consumimos”, afirma a geógrafa Leila Vendrametto, educadora ambiental do programa Ecoativos, que tem como objetivo levar a cultura da sustentabilidade a alunos de escolas públicas brasileiras.

No Brasil, menos de 2% dos resíduos sólidos urbanos são destinados para compostagem. E cada tonelada de resíduos biodegradáveis coletados e compostados poupa a emissão de 60 Kg de CO2.

Dados sobre a produção de lixo extraídos de diferentes fontes – entre elas o relatório What a Waste: a global review of solid waste management (Que desperdício: uma revisão global do gerenciamento de resíduos sólidos, em tradução livre), do Banco Mundial – mostram que cada cidadão pode mudar tudo. Nos Estados Unidos, a produção de lixo per capita anual é de 734 quilos ao ano; já no Brasil, este índice cai para metade, com 383 quilos ao ano.

Se considerarmos a realidade latino-americana, uma única pessoa que composte todos os resíduos úmidos gerados (restos de frutas, verduras, carnes e outros tipos de comida) pode evitar o acúmulo de 150 quilos de lixo orgânico nos aterros sanitários por ano. Levando em conta que cada quilo de lixo orgânico gera 400 gramas de gás metano, você, sozinho, pode evitar a emissão de 60 quilos de metano no meio ambiente.

Imagem vista de cima de uma grande caixa de madeira. Material semelhante como serragem cobre toda a parte inferior da caixa, e em cima desse material está uma grande quantidade de restos orgânicos, como cascas de frutas e ovo.

Na construção de sua composteira, fique atento ao que pode entrar e às dicas para evitar mau cheiro e excesso de umidade (Foto:Pixabay)

PARA FAZER A SUA PARTE
O primeiro passo é construir sua composteira, considerando a quantidade de pessoas que moram na mesma casa, de refeições realizadas por dia e de produtos in natura consumidos regularmente. Estes são alguns indicadores para saber qual será o tamanho da composteira, que pode ser usada até em apartamentos. Depois, hora de começar a construção.

Empilhe três caixas ou baldes plásticos coloridos. Se optar por baldes, compre com tampa, para que não se encaixem um no outro. Faça um grande furo no meio de duas das tampas, com o limite de 10 centímetros da margem, e deixe a terceira sem furo, para cobrir o último balde da composteira. Os compartimentos devem seguir as recomendações a seguir.

FAÇA VOCÊ MESMO: crie uma composteira portátil e fácil de usar Material necessário ● Três caixas ou baldes plásticos ● Uma torneira ● Furadeira ● Um punhado (120g) de minhocas californianas, encontradas em casas de pesca ● Serragem para cobrir as camadas de resíduos úmidos O tamanho 15 litros - quem mora sozinho ou come pouco em casa 30 litros - casais 45 litros - famílias que fazem pelo menos uma refeição por dia em casa 65/70 litros - famílias que fazem várias refeições e consomem produtos in natura Caixa-base: biofertilizante Faça um furo na parte inferior de uma das laterais para encaixar uma torneira, por onde será coletado o líquido final produzido (após três meses) pelo processo de compostagem. Ele pode ser utilizado como biofertilizante para plantas. Caixa do meio: reserva Faça uma fileira de furos na lateral, com 6 milímetros de diâmetro e 5 centímetros de espaçamento entre um e outro, para facilitar a oxigenação e a decomposição dos materiais. Faça também alguns furos no fundo da caixa com cerca de 1 centímetro de diâmetro - lembrando de respeitar o limite de 10 centímetros da margem. É por ali que as minhocas vão circular entre as caixas. Sempre que a caixa superior encher, troque pela outra. Caixa de cima: restos de comida Repita o processo com os mesmos furos (laterais e fundo) da caixa anterior. É aqui que você vai misturar os restos de comida, as minhocas e cobrir com serragem. Lembre-se de deixar esta caixa tampada. Não coloque terra. A terra preta será produzida pela minhoca. ! Use a furadeira, em vez de queimar o plástico, já que esse processo libera uma substância tóxica chamada dioxina. SERRAGEM Os resíduos úmidos devem ser cobertos com muita serragem. Ela evita o mau cheiro e a proliferação de insetos, fungos e aqueles mosquitinhos que geralmente infestam as lixeiras.

Quando você trocar as caixas (a de cima pela de baixo), não precisa adicionar minhocas: elas irão subir pelos furinhos entre as caixas, em busca de comida. Enquanto você enche a segunda caixa, a outra estará descansando e produzindo húmus a partir do final da decomposição dos restos de alimentos (que pode ser usado como adubo para plantas).

Agora que a composteira está pronta, confira 7 dicas para não errar na compostagem.

1- Use minhocas californianas
Não é qualquer minhoca que serve para a compostagem. A minhoca deve ser a californiana, ou vermelhinha, que come 50 vezes o próprio peso por dia. Ela acelera o processo e melhora a qualidade do adubo. Para encontrá-las, você pode procurar uma casa de pesca ou participar de grupos de compostagem nas redes sociais, em que as doações são frequentes. Um punhado é suficiente para começar a sua compostagem.

Dica: A cada seis meses, o número de minhocas na sua composteira se multiplica. É hora de fazer uma catação de minhocas e doar ou jogar em um jardim para evitar uma superpopulação, que desequilibra o minhocário.

2- Nada de sol ou chuva
O plástico esquenta muito, por isso, a composteira deve sempre ficar na sombra e em um local abrigado, para que, caso chova, a água não escorra pelos furos destinados à entrada de oxigênio.

3- Nem tudo pode
Para ir à composteira, estão liberados cascas de ovo, verduras, frutas e borra de café. E estão proibidos frutas cítricas, fezes de cães e gatos, alho e cebola, carnes, nozes pretas, trigo, papel, comida temperada e plantas doentes. Esses materiais comprometem a degradação da matéria orgânica e atraem animais para a composteira.

4- Corte as cascas
O processo de compostagem leva, em média, três meses. Para acelerar o processo, corte as cascas. Se for passar um tempo fora, é melhor deixar as cascas maiores, para que as minhocas fiquem alimentadas na sua ausência.

5- Atenção à umidade
O principal problema da composteira é o excesso de umidade. E isso é causado pela falta de camadas secas. Quando estiver alimentando a composteira, imagine que ela é uma lasanha e, para funcionar, precisa intercalar camadas úmidas e secas, com atenção especial à última camada, sempre seca, que deve ter a quantidade dobrada da úmida. Assim, evita-se o excesso de umidade e o mau-cheiro, que é o que atrai vetores como moscas, baratas e até ratos.

Dica: Para saber se sua composteira está com excesso de umidade, aperte o húmus na sua mão. Se escorrer líquido entre os dedos, significa que tem muita água e pouca camada seca. O ideal é que, ao apertar, a mão umedeça, mas o húmus vire uma bolinha compacta, que solta fácil. Outro sinal de excesso de umidade é o surgimento de fungos na tampa da composteira. Se isso acontecer, capriche ainda mais na camada seca

6- Folhas secas ou serragem?
Tanto faz, desde que se tome alguns cuidados. Caso a escolha seja pelas folhas secas, deixe-as no sol por um ou dois dias, para eliminar possíveis ovos de moscas e evitar o aparecimento de bigatos (larvas da mosca varejeira) na composteira. Se optar por serragem, é fundamental que seja sem verniz, porque a química mata as minhocas. Então, certifique-se de que a madeira utilizada não foi quimicamente tratada.

7 – Para evitar o cheirinho
Uma vez por mês, revolva os materiais contidos na caixa superior com uma pequena espátula, para facilitar oxigenação – isso evita a fermentação e aquele cheirinho de podre. Não é necessário higienizar as caixas, mas, se quiser, nunca use produto químico: só sabão de coco e água.

PARA SABER MAIS

  • Se você preferir comprar uma composteira pronta, há opções neste site aqui.
  • Este tutorial mostra o passo a passo para fazer a composteira em casa.
  • Este vídeo também dá boas dicas de como fazer a própria composteira.
  • A Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, elaborou este texto com algumas informações relevantes sobre a compostagem (em inglês).
  • Se você é um principiante, este guia pode te ajudar a dar os primeiros passos para compostar seu lixo orgânico (em inglês).
  • Aqui você encontra as diretrizes do United States Environmental Protection Agency (EPA) para compostar o lixo em casa (em inglês).
  • O Ministério do Meio Ambiente do Brasil também elaborou um manual para auxiliar quem quer compostar o próprio lixo.