James Wakibia, 35, não se considerava um ativista ambiental, mas a poluição na sua cidade natal de Nakuru, a 150 km de distância da capital do país, era tanta que ele teve que agir.

Em 2015 Wakibia começou uma campanha nas redes sociais, usando a hashtag #banplasticsKE (bane o plástico Quênia) no Twitter para pedir que seu país banisse o plástico, especialmente as sacolas. A campanha logo recebeu o apoio da Ministra do Meio Ambiente e Recursos Naturais, Judi Wakhungu, e as coisas cresceram.

Wakibia tem sido creditado por ter iniciado o movimento que resultou na proibição de sacolas plásticas em todo o Quênia, que entrou em vigor em 2017. Nessa entrevista ele fala sobre seu trabalho, suas verdadeiras paixões, e o recado que ele gostaria de mandar a todas as lideranças do seu país.

ONU MEIO AMBIENTE (ONU) – Nos conte um pouco sobre você. Como você se interessou em problemas ambientais?
JAMES WAKIBIA (JW) – Eu estudava em um colégio para meninos justamente quando a floresta em Elburgon, perto de Nakuru, estava sendo derrubada para abrir espaço para cultivo durante o regime de [Daniel arap] Moi, que estava no poder na época. Era o ápice da destruição ambiental.

A raiva me levou ao ativismo ambiental. Começando por volta de 2011, eu fiquei com raiva do mal manejo do aterro de Gioto em Nakuru, que tinha tanto lixo, especialmente sacos plásticos, espalhados pela estrada.

Eu pensava que algo tinha que ser feito, então em 2013 eu entreguei uma petição ao governo do condado de Nakuru pedindo que o aterro mudasse de local, mas foi em vão: o governo do condado falou que não tinha planos para fechar o aterro porque não havia outro terreno.

Como o problema mais visível do aterro era o plástico, eu decidi atacar a poluição plástica. Isso se transformou num hobby: eu usava todos os meios disponíveis para compartilhar informações sobre o impacto negativo das sacolas de plástico. Eu escrevi artigos e cartas a editores; eu postava comentários nas mídias sociais. Eu estava literalmente obcecado em reivindicar o banimento total das sacolas de plástico descartáveis.

Em 2015, junto com um grupo chamado InTheStreetsofNakuru (Nas Ruas de Nakuru), nós apresentamos uma petição à assembléia do condado de Nakuru pedindo que o governo discutisse um jeito de controlar a poluição plástica. Eu queria que o Condado de Nakuru fosse o primeiro a proibir sacolas plásticas. Isso não aconteceu, mas pelo menos as pessoas estavam discutindo o assunto. Em agosto de 2017, o governo nacional do Quênia anunciou a proibição das sacolas. Foi uma grande notícia.

O mesmo homem da foto de capa, de pele negra e cabelos escuros rentes à cabeça, vestindo calça jeans azul escura e camiseta preta de mangas curtas, está em pé sobre um gramado alto verde claro, no canto esquerdo da foto. Ele olha, de frente, para um lago verde escuro, cuja borda está cheia de resíduos plásticos diversos. Ao fundo, algumas árvores e o céu, azul claro, com nuvens.

Poluição plástica na planta de tratamento de esgoto de Nakuru, ao lado do Parque Nacional do Lago Nakuru (Arquivo pessoal)

ONU – Você tem um emprego, ou é ativista em tempo integral?
JW – Minha paixão é a fotografia. A fotografia tem me ajudado a enxergar. Ela me deu a coragem para parar e fotografar, e depois questionar. Eu ganho dinheiro e suporto minha família com a fotografia.

ONU – O que você acha da proibição dos sacos plásticos? Haverá um esquema para reciclar ou proibir as garrafas de plástico em breve?
JW – A proibição dos sacos plásticos era o caminho certo. Quênia deu um grande passo ao proibir as sacolas de plástico descartáveis. Eu adoraria ver todos os países que estão sendo sufocados pelo lixo plástico começarem a eliminar o uso de sacolas, canudos, copos, garfos, etc. de plástico descartável, e eu incentivo outros países a seguirem o exemplo do Quênia e proibir todas as sacolas de plástico descartáveis.

Eu acho que as garrafas de plástico podem e devem ser recicladas, e o governo deve garantir que todas as garrafas de plástico sejam padronizadas, para que tenhamos uma garrafa boa e que pode ser facilmente reciclada.

ONU – Você tem algum recado para as indústrias?
JW – As indústrias e partes interessadas no ramo de plásticos, incluindo empresas de bebidas, deveriam ser forçadas por lei a criar um fundo para limpeza ambiental. A maioria só se preocupa com o lucro que ganham, não com o meio ambiente que seus produtos plásticos poluem. Faça com que a indústria procure uma embalagem ecológica para seus produtos. Elas criam muitos empregos, mas ao mesmo tempo existem alternativas e embalagens mais sustentáveis.

ONU – Você tem algum recado para os políticos?
JW – Eu acho que o maior empecilho contra a proteção ambiental é quando os políticos têm interesses próprios. Por exemplo, muitos políticos são sócios de empresas envolvidas com madeira, ou são sócios de empresas que lidam com plástico. Então fica difícil para eles apoiarem qualquer iniciativa pedindo um manejo florestal sustentável ou a proibição de plástico descartável. Esse é um problema muito sério que atrapalha muitos governos.

Eu acho bom que o governo do Quênia tem discutido o plantio de árvores em larga escala pelo país. Eu espero que eles realmente façam isso. Então o meu recado para os políticos, especialmente os legisladores, é que eles apoiem projetos ambientais que protejam o bem-estar da nação.

ONU – Qual tem sido o seu papel nos mutirões de limpeza?
JW – Eu organizei alguns mutirões de limpeza, mas não posso comparar a minha participação com a do governo do condado. Eles podem alcançar muito mais pessoas. A quantidade de gente que tem vindo participar desses mutirões é enorme, e mostra que os quenianos estão começando a gostar de um meio ambiente limpo. Eu espero que esses mutirões continuem a acontecer em todo o país.

O meu papel tem sido basicamente de compartilhar informações e fazer lobby por essas atividades pelo país inteiro. Eu espero que através disso eu consiga mudar a percepção das pessoas, para que elas também possam copiar o que está sendo feito.

ONU – Como você faz para espalhar a sua mensagem?
JW – Em geral eu uso as mídias sociais, especialmente o Facebook e o Twitter. Eu acho que essas plataformas são muito poderosas e engajantes. Minhas contas no Twitter são @jameswakibia e @banplasticsnow, e eu escrevo no Facebook e no Medium. Eu também planejo criar minha própria organização, para que eu possa expandir meu trabalho para acabar com a poluição de plástico por todo esse lindo país.

#AcabeComAPoluiçãoPlástica é o tema do Dia do Meio Ambiente 2018