Se você pergunta para Noëlie Audi-Dor de onde ela é, ela vai responder: eu não sei! A jovem de 24 anos é filha de mãe libanesa e pai francês. Sua mãe, fugindo da guerra no Líbano, foi para a Suíça, onde Noëlie nasceu e cresceu. A graduação foi feita na Inglaterra. “A Suíça era muito calma, eu queria estudar em um lugar mais diverso”, explica. Hoje, Noëlie trabalha em Bruxelas, na Bélgica. Uma mistura dessas certamente a torna uma cidadã de onde ela quiser ser.

“Eu cresci na Suíça com a minha mãe, mas todos os anos íamos para o Líbano visitar os familiares e eu pude conviver com pessoas em situação de guerra”, conta. Esse cenário foi o suficiente para Noëlie ser engajada em causas desde a sua adolescência. Aos 16 anos, ela participou de um projeto da ONU para estudantes, onde ajudava a arrecadar fundos para projetos de caridades.

Quando mudou para a Inglaterra para estudar desenvolvimento sustentável, ela passou a ter mais contato com a temática de clima e se engajou em uma cooperativa para vender alimentos produzidos localmente. “Nós vendíamos os alimentos mas também informávamos as pessoas sobre os aspectos sociais, nutricionais e ambientais por trás deles. Essa experiência me inspirou e me mostrou como o impacto das minhas ações pode alcançar diretamente a minha comunidade”, explica.

Noëlie e colegas, durante manifestação de campanha que pressiona governos a pararem de investir em combustíveis fósseis (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Ao término da graduação, Noëlie se mudou para Londres, onde continuou seus estudos em meio ambiente para a sustentabilidade. A jovem foi recebida pela capital inglesa com uma mega campanha sobre divestment – um movimento global que pressiona tomadores de decisões e governos a pararem de investir em combustíveis fósseis e gradativamente reverter o mesmo montante para as energias renováveis. Mais uma vez, Noëlie se viu totalmente envolvida em uma causa. “Eu percebi que, no final do dia, era isso que realmente causava impacto e que, em âmbito nacional, as pessoas não sabiam sobre isso.”

A paixão pelo tema levou Noëlie a integrar outros grupos que discutiam o assunto. Entre eles, a UK Youth Climate Coalition (UKYCC), coalizão de jovens do Reino Unido que promove treinamentos para que jovens da região influenciem negociações internacionais de clima. Foi pela UKYCC que Noëlie arrumou as malas para morar seis meses na França, ajudando na organização da COY11, conferência global de jovens que antecedeu a Conferência do Clima da ONU em Paris (COP21). “Em Paris, nós trabalhávamos 20 horas por dia, mas valeu a pena. O manifesto da COY foi entregue ao presidente da França, ao presidente da COP e ao enviado da ONU para assuntos de juventude, por exemplo.”

Toda essa paixão e engajamento rendeu a Noëlie um estágio na organização Friends of the Earth Europe (Amigos da Terra Europa) onde ela trabalha com lobby nas áreas de petróleo e gás. “Eu me vejo fazendo lobby com pessoas muito mais velhas do que eu, mas estes espaços são uma bolha, eu sinto falta do contato com as pessoas”, relata. Por isso, Noëlie planeja integrar outros movimentos ou criar o seu próprio. “Eu quero ser útil em diferentes frentes”, conta Noëlie, que não sabe dizer de onde é e que também não gosta de separar o mundo entre norte e sul. “Eu não gosto da maneira como dividem o mundo, os impactos das mudanças climáticas vão afetar todos. Eu, como jovem, terei o meu mundo totalmente impactado de acordo com as decisões que forem tomadas hoje, e isso vale para todos nós.”

 

Este conteúdo faz parte do projeto “Ela é quente”, idealizado e cedido ao Believe.Earth pela jornalista e educadora ambiental Evelyn Araripe. O projeto narra histórias inspiradoras de mulheres, de diferentes partes do mundo, que estão engajadas em ajudar a enfrentar as mudanças climáticas.