Calçadas verdes são aqueles passeios amplos, com pelo menos dois metros de largura, em que uma faixa de terra é total ou parcialmente recoberta por vegetação. Quem caminha por esses percursos arborizados talvez nem se dê conta, mas, além de bonitos, eles atuam em silêncio para evitar enchentes, reduzir as ilhas de calor e proteger os pedestres. “As faixas verdes permitem a infiltração das águas das chuvas, graças à permeabilidade do solo, e colaboram para reduzir a temperatura ambiente”, diz o arquiteto Anderson Santos. “Também criam uma barreira entre os carros e as pessoas, diminuindo o risco de acidentes.” Mas isso tudo só acontece se o projeto for bem executado.

Existe um série de leis que determinam como uma calçada ecológica deve ser construída, respeitando o tamanho, o tipo de piso e as possibilidade de modificação do espaço. Toda a área verde deve estar nivelada com o solo, sem muretas nem divisórias, para permitir o escoamento da chuva. Em São Paulo, a legislação prevê o ajardinamento dos passeios mantendo um trecho mínimo de 1,2 metro para livre circulação.

Os novos imóveis já devem contemplar, na planta, a existência desse tipo de passeio. “Os proprietários de casas construídas que queiram readequar a calçada não precisam pedir autorização da prefeitura, desde que o plano atenda à legislação local”, afirma Anderson Santos.

GUARDIÃS DAS CASAS
Uma fileira de extremosas, árvores de pequeno porte que florescem durante todo o verão, guardam a calçada da casa do professor Zeno Freitag, no interior do Rio Grande do Sul. “Escolhemos essa espécie por não ter perigo de levantar a calçada ou interferir na fiação da rede pública”, diz ele. “É importante pensar nisso antes de definir o que plantar para não ter problemas futuros.”

O professor sabe o que diz. A definição de árvores e arbustos a serem utilizados nos passeios públicos deve mesmo obedecer a certos critérios, como o de não ter espinhos, para não machucar os pedestres, nem copa muito baixa, que dificulta o tráfego. “A composição da vegetação de um paisagismo deve ser planejada levando em conta o mobiliário urbano, o clima, a orientação solar, a arquitetura local”, exemplifica a arquiteta e paisagista Letícia Grieco. “Em geral, costuma-se compor um mix de árvores nativas, arbustos, gramíneas e flores.” A manutenção desses espaços é simples, com regas e podas esporádicas.

Um senhor sorri para a câmera e segura-se ao tronco fino de uma árvore com a mão esquerda, o braço estendido. Atrás dessa árvore, outras iguais, enfileiradas. O senhor tem pele branca e cabelos brancos. Ele usa um chapéu cor de areia, uma camisa branca com listras azuis claras e uma calça de cor grafite, com um cinto preto. Usa também óculos de lentes ovais. O senhor está em pé sobre uma calçada, e ao lado esquerdo há um muro branco com grandes janelas enfileiradas gradeadas, através das quais aparece uma folhagem alta.

Passeio ladeado por extremosas enfeita e protege a casa do professor Zeno Freitag, no interior do rio grande do sul (Mickael Freitas/Believe.Earth)

Quando teve a ideia de fazer a calçada verde, o professor Zeno queria tornar o ambiente mais agradável para quem transita por ali. Mas houve também uma motivação econômica. “Pensando em diminuir as despesas, a gente utilizou concreto somente no meio do passeio e deixou 50 centímetros em cada uma das laterais com grama verde, melhorando a entrada de água para as árvores que plantamos na calçada”, diz.

CONCRETO POROSO

Além da vegetação, outras soluções têm sido utilizadas para o escoamento das chuvas nas grandes cidades. Como as calçadas drenantes, construídas com concreto permeável resistente, poroso e antiderrapante que permite maior absorção da água. “A proporção de areia, brita, cimento e água utilizada na preparação é o que faz com que o material tenha mais poros”, afirma Alan Ferrão, gerente de planejamento da construtora Rio Ave, no Recife (PE), que usou o recurso em um de seus projetos. “É uma opção para construir um passeio sem impermeabilizar o solo.”