Trinta e dois milhões de piscinas olímpicas. Essa é a quantidade de água consumida pela indústria têxtil mundial em apenas um ano, segundo o relatório Pulse of the Fashion Industry. Para fazer uma camiseta são usados 2.700 litros de água, mostram os dados do World Resources Institute. É mais do que o total bebido por uma pessoa em três anos.

Os descartes do setor de moda também são um problema. Todo ano, o segmento produz mais de 92 milhões de toneladas de lixo, aponta o mesmo relatório, e somente 20% dessas peças jogadas fora são reutilizadas.  De 15% a 30% de todo o plástico que polui os oceanos hoje são microplásticos – 35% desse material vem da lavagem de tecidos sintéticos, segundo o estudo “Primary microplastics in the oceans”.

Uma das soluções para ajudar a reduzir esses números está nas suas mãos, na forma como você compra roupas. Quer ver? Preparamos um guia com dicas de consumo consciente que poupa seu bolso e salva o planeta.

LOOK CONSCIENTE Um passo a passo prático para um guarda-roupa sustentável COMEÇE SIMPLES PLANEJAMENTO É TUDO Faça uma lista do que realmente precisa ser comprado e do que pode ser passado para frente PARA DEIXAR FÁCIL, FÁCIL Já ouviu falar em "armário-cápsula"? Ele têm um número limitado de roupas coringas que se encaixam no seu estilo de vida A HORA DO DESAPEGO Não deixe a roupa parada no fundo do armário: venda, doe ou vá a feiras de trocas ESCOLHA COM CARINHO - Preste atenção se há fios soltos ou pontos largos, que indicam má qualidade - Cuidado com os tecidos sintéticos: são mais baratos, mas duram menos CUIDE COM CARINHO - Verifique na etiqueta as informações sobre a melhor forma de lavagem - Lave roupas delicadas à mão com produtos menos abrasivos e mais naturais Tudo isso faz suas roupas durarem muito mais FAÇA MAIS UM POUQUINHO FAÇA VOCÊ MESMO Conserte, costure, reforme, reaproveite, transforme em algo diferente BRECHÓ Compre roupas em brechós e economize até 80% em relação às lojas tradicionais SUSTENTÁVEL PARA TUDO E TODOS Procure saber se as marcas fazem uso de trabalho escravo, utilizam materiais sustentáveis, preocupam-se com o comércio justo e com a valorização da mão de obra local PRA QUEM PODE INVESTIR $ DE OLHO NO FAST FASHION! Grandes redes oferecem roupas baratas mas geralmente a custo de mão de obra precária VALORIZE A PRODUÇÃO LOCAL Compre direto de quem faz em feiras, bazares e em lojas online para reverter o dinheiro para sua comunidade INVISTA $ Se você pode investir mais, compre roupas com alto valor agregado e fabricadas de forma sustentável, como aquelas feitas com elementos e corantes naturais ou que reutilizam resíduos têxteis (upcycling).

1. Repense
Perguntar-se se você precisa de tanta roupa é o primeiro passo. Abra o armário e faça uma lista do que realmente precisa ser comprado (se houver necessidade) e do que pode ser passado para frente

2. Resista
Consumir menos é o que você pode fazer de mais útil para ser mais sustentável. Em média, uma pessoa compra 60% a mais de peças de roupas atualmente do que há 15 anos. Cada peça é usada pela metade do tempo, em comparação à média de utilização de 15 anos atrás.

3. Escolha bem
Para saber se a roupa vai durar, olhe a peça contra a luz e preste atenção se há fios soltos ou pontos largos, que indicam má qualidade. Procure também peças que se encaixem em seu estilo de vida: se é corrido, por exemplo, evite tecidos que precisam ser passados, pois é mais uma peça a ficar encostada no armário. Tecidos sintéticos costumam ser mais baratos, mas também duram menos.

Já alguns materiais que antes eram considerados “verdes” vêm sendo questionados. Uma camiseta feita de garrafa PET, por exemplo, não pode ser reciclada, porque não existe tecnologia para reusar essa mescla de algodão com PET. Ou seja, melhor seria deixar que a garrafa seguisse para a reciclagem, em vez de virar vestuário.

4. Cuide
Verifique na etiqueta as informações sobre a melhor forma de lavagem de cada peça. Prefira lavar as roupas delicadas à mão e use produtos menos abrasivos e mais naturais para conservá-la por mais tempo (mostramos aqui como fazer alvejantes sem química). Quem cuida, tem – e não precisa gastar mais comprando novas peças.

5. Crie
Não se desfaça de uma peça porque ela perdeu o botão ou está com algum furinho. Conserte, costure, reforme, reaproveite, transforme em algo diferente. Há oficinas que ensinam a transformar a roupa e customizá-las (prática chamada de upcycling) ou marcas que vendem peças feitas a partir de resíduos têxteis, como a Reroupa e a Roupa com história.

6. Desapegue
Não deixe a roupa parada no fundo do armário. Veja se alguém entre seus amigos ou familiares se interessa. Também há bazares que promovem trocas e sites e aplicativos de empréstimo ou troca de itens, como o Tem Açúcar? e o Roupa Livre.

7. Mude
Uma visita a um brechó pode render, em primeiro lugar, uma mudança efetiva de comportamento: deixar de comprar roupa nova e de alimentar uma indústria nociva. Compras em brechó possibilitam ainda uma economia de até 80% em relação às lojas tradicionais – no caso de marcas de grife, a economia chega a 70%, segundo o Sebrae. Entre os destaques nessa área, há brechós de roupas infantis: como as peças são usadas por pouco tempo, geralmente estão em bom estado de conservação.

8. Simplifique
Para muita gente, funciona ter o chamado “armário-cápsula”, só com um número limitado de roupas coringas. A idealizadora do projeto Menos 1 Lixo, Fe Cortez, fez um especial sobre isso em seu site (veja aqui). Algumas das dicas que ela dá para criar um armário enxuto e útil é escolher peças que reflitam a sua identidade, sem se preocupar com tendências. Ela também sugere que você eleja 40 peças de roupa e crie pelo menos três combinações com cada peça. O vídeo abaixo explica com mais detalhes como montar seu armário-cápsula.

9. Informe-se
Aprenda mais sobre as marcas que você usa, procurando saber se fazem uso de trabalho escravo, utilizam materiais sustentáveis, preocupam-se com o comércio justo e com a valorização da mão de obra local. O aplicativo Moda Livre pode ser um bom ponto de partida.

Segundo dados da organização Clean Clothes, a maioria dos trabalhadores na indústria da moda ganha menos de 2 dólares por dia. Os trabalhadores desse setor geralmente ganham entre 1% e 3% do valor da peça que estão produzindo, de acordo com a organização Labour Behind the Label.

No Brasil, pelas últimas operações de fiscalização conduzidas pelo Ministério do Trabalho e do Emprego, foram encontrados em São Paulo bolivianos que costuravam por mais de 12 horas diárias. Eles ganhavam cerca de 5 reais por dia para produzir peças de luxo que custavam, nas lojas, mais que 120 reais.

10. Entenda
Foi a partir da explosão das redes de fast fashion que, nos anos 2000, a produção de vestuário dobrou – e chegou a 100 bilhões de peças no ano de 2014. Com tamanha produção, o preço despenca. Mas as roupas são baratas nessas lojas porque alguém está pagando por isso. Em 2013, um prédio desabou em Bangladesh, matando 1.133 pessoas. A maioria era de trabalhadores que produziam roupas de grandes marcas em condições precárias. Após essa tragédia, vários movimentos, como o Fashion Revolution, começaram a questionar as marcas sobre as condições de produção das roupas que vendem. Barato para uns, caro para outros.

11. Valorize
Tente comprar direto de quem faz em feiras, bazares e em lojas online, em sites como Elo7 e Tanlup. Com isso, você reverte o dinheiro para sua comunidade e ajuda a sustentar os trabalhadores e as famílias que vivem e trabalham na região. Nos Estados Unidos, a cada 100 dólares gasto em uma loja de departamento com alcance nacional, somente 14 ficam na economia local, segundo um estudo de 2012 realizado pelo Institute for Local Self-Reliance.

12. Alugue
Pode ser uma boa pesquisar opções em lojas e sites de aluguel de roupas e acessórios, como a Roupateca, em São Paulo, e o site BoBags.

13. Invista
Quem tem condições de desembolsar mais dinheiro por uma boa peça pode considerar comprar roupas com alto valor agregado. Há marcas que vendem roupas sustentáveis, como a da estilista Flavia Aranha, que trabalha com tingimento a partir de elementos e corantes naturais, e a Insecta Shoes.

Para a produção deste conteúdo foram consultadas Fernanda Simon, do Fashion Revolution Brasil, e a geógrafa Leila Vendrametto, educadora ambiental do Ecoativos, programa da ONU Meio Ambiente e Instituto Alana que tem como objetivo levar a cultura da sustentabilidade a alunos de escolas públicas brasileiras.

PARA SABER MAIS

  • Modefica traz notícias e análises sobre o mundo da moda e a sustentabilidade. Ótima fonte para descobrir marcas brasileiras e internacionais que fazem roupas de maneira justa e pensando no futuro do planeta.
  • O Instagram do movimento Fashion Revolution tem boas dicas para quem procura um guarda-roupa mais sustentável.
  • Campanha internacional do Greenpeace, a Detox my Fashion (em inglês) tem um acervo completo de informações sobre os impactos ambientais causados pela indústria da moda e as iniciativas positivas no setor.
  • O blog Slowly traz posts sobre moda sustentável e novas marcas de slow fashion.
  • O CFS (em inglês) é um centro de pesquisas sobre moda sustentável, com sede em Londres, e traz iniciativas e estudos sobre o tema.
  • O site ModaEs desenvolveu um dossiê (em espanhol) completo sobre ética social e ambiental no mundo da moda: veja aqui.